domingo, 13 de junho de 2010

Você já dançou com o demônio sob a luz do luar?

Inspirado (de certa forma) por um certo conto de fadas...
Sapatos Vermelhos

Na minha época, eu era um artista. Minhas obras de arte assombravam pessoas ao redor do país – e cada nova exposição merecia destalhe nos melhores jornais. O segredo da arte não é “dom” ou “talento” - essas palavras fazem pouco sentido na linguagem de um profissional. O quê define a qualidade do trabalho do artista é “prática” e, principalmente gostar do que faz. E eu gostava do quê fazia. A essência de uma alma, num momento efêmero de êxtase.
A polícia, obviamente, estava enlouquecida atrás de mim. Eles me caçavam como a um animal – um animal perigoso. Mas um animal perigoso cujo rosto eles desconheciam. A única verdade absoluta sobre meu caráter eram minhas obras – os 37 corpos de criancinhas que eu deixei para trás. Meninos e meninas, de todas as idades. Ainda hoje, a lembrança de nossos momentos juntos são a única coisa que conseguem me proporcionar alguma satisfação... Apesar disso tudo, eles nunca conseguiram me capturar. Eu era esquivo demais, esguio demais. Eles eram assustados e incompetentes. E eu me safei. Por anos. Até o dia fatídico em que meu coração falhou.
Hoje, eu sei o significado da palavra tormento. Tempo não tem significado aqui – o único tempo é o da minha mente prodigiosa. É um espetáculo bem-feito, tenho que admitir: a clareira à luz do luar, as cores, a vivacidade. Até a música, saída da boca de mil almas desencarnadas, ao som da qual eu danço. Sou forçado a dançar sem parar, para a diversão do próprio Demônio. Ao redor da clareira, sou observado por milhares de pessoas, satisfeitas com meu sofrimento. E eu continuo a dançar, martirizado pelas obras de arte que nunca mais poderei realizar. Eu posso suportar o olhar dos espectadores, o fato de me tornar a diversão viva e eterna do Demônio. Mas se ele ao menos me deixasse tirar estes malditos sapatos de ferro em brasa..!
por A. Araújo "Peregrino"
tema da semana do Café Samedi: http://cafesamedi.wordpress.com/

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Demônios

Nossa! Tema cabuloso o desta semana =o
Quase que não consigo escrever nada - mas aí vai:

Demônios


Ela estava tão feliz! Sentia-se bonita, desejada, amada! Ele a fazia se sentir tão bem que ela seguiu cegamente sua sugestão de entrarem juntos na banheira. Ela se despiu, e sua pele branca e sem marcas reluziu aos olhos dele. Ela se sentou confortavelmente, recostando-se na banheira enquanto esperava por seu amado.
Ele estava tenso. Suava nervosamente enquanto olhava para o corpo nu e belo dela. Para seus olhos verdes, para seus seios perfeitos, para os pelos meticulosamente aparados da virilha, para o meio de suas pernas... Ele não sabia para onde olhar. Tinha somente uma coisa em mente.
Como ela, ele se despiu, e em toda a glória de sua nudez, finalmente agiu. Debruçou-se sobre a banheira, e olhando para o rosto alegre dela, levou as mãos ao seu pescoço, apertando-o, e empurrando sua cabeça para dentro d'água. Ela se debatia freneticamente, tentando livrar-se do aperto titânico dele, lutando para encher seus pulmões de ar, e não de água. Cada segundo debaixo d'água, o pensamento dela corria por mil coisas... Todas eventualmente envolviam sua morte. O olhar ensandecido dele a assustava, e ela estava perdendo a consciência quando ele a soltou por alguns segundos, com um olhar apavorado. Usando o pouco de energia que lhe restava, ela levantou bruscamente o joelho, acertando-o com força na virilha. Ele se inclinou de dor enquanto ela finalmente enchia os pulmões com o ar que tanto precisava. No desespero de quem está prestes a morrer, ela bateu a cabeça dele com força na banheira. Ele perdeu a consciência, enquanto a água ficava cor de sangue...
Ela saiu da banheira ofegando, e com lágrimas nos olhos, observou seu amado por vários minutos, sem nada fazer. Então, num suspiro lamentoso, sussurrou finalmente:
- Jonas, por quê fez isso..? Por quê?

por A. Araújo "Peregrino"

tema da semana do Café Samedi: http://cafesamedi.wordpress.com/