
Área de Fumantes
Paulo entrou no humilde restaurante a passos trôpegos e buscou uma mesa bem distante da porta. Seu chapéu estava encharcado por conta da chuva torrencial que desabava lá fora. Com um gesto rígido, ele tirou um pequeno objeto do bolso – um único cigarro, que havia conseguido escapar ileso à tempestade. Colocou o cigarro na boca e o acendeu usando seu isqueiro. Antes que pudesse dar aquela necessária primeira tragada, um homem jovem, aproximou-se receosamente e falou de forma subserviente.
- Senhor, esta é a área para não-fumantes.
- Oh sim, perdoe.
Ele estava desapontado, mas apagou o cigarro à sua frente. Regras são regras. Não que ele nunca houvesse quebrado regras em sua vida, mas não costumava fazê-lo sem bons motivos. O rapaz foi embora e Paulo continuou sentado, olhos escondidos pelo chapéu, fitando o vazio. Estava respirando com dificuldades.
Ficou alguns bons minutos sozinho, pensando em sua vida e seus atos, quando o mesmo homem jovem chegou cautelosamente.
- Senhor, está se sentindo bem?
Paulo suspirou.
- Sim, estou; escute, pode sentar-se por favor?
O outro sentou-se e olhou desconfiado para Paulo.
- Escute... Eu gostaria que você me fizesse um favor. Jure que vai fazê-lo.
- Senhor, eu...
- Jure que vai fazê-lo.
- Mas eu preciso saber do quê se trata antes de...
- Jure.
- Eu juro.
- Eu não escutei.
- Eu juro!
O pobre homem estava ficando assustado. Paulo então colocou a mão no bolso e puxou sua carteira. De dentro da carteira, ele tirou um papel com alguns números.
- Os primeiros números são o telefone da minha ex-mulher. O resto é uma conta no banco. Uma conta com muito dinheiro. Dinheiro sangrento. – uma lágrima caiu dos olhos de Paulo – Mas ele será útil para minha querida filha.
Ele pausou um instante, enquanto o outro digeria a informação com sua expressão de espanto. Paulo continuou a falar.
- Minha esposa nunca entendeu o quê eu fazia. Ela nunca quis entender que eu estava fazendo tudo por ela e por nossa filha... Mas ela precisa aceitar isso. É meu legado para elas. Invente uma explicação qualquer, mas faça com que aceite este dinheiro. Eu sei que você não ficará com ele... Posso ver em seus olhos. São olhos honestos. Você é incapaz de fazer o quê eu fiz.
Dizendo isso, Paulo baixou os olhos para mesa e continuou tentando respirar.
- Senhor, tem certeza de quê está bem? Eu vou chamar um méd...
Num movimento rápido, Paulo puxou um revólver, engatilhou-o e apontou para o homem por baixo da mesa.
- Vá embora. Faça como jurou fazer. Não olhe para trás. VÁ!
O homem saiu correndo pela rua com o papel em mãos. Paulo sabia que ele conseguiria. Heh. Bom rapaz. Ele guardou o revólver novamente, e, respirando com dificuldade, levou a mão ao abdôme, segurando com firmeza o buraco que o projétil havia feito ao entrar em seu corpo. Paulo então pensou em sua filhinha. E expirou.
por A. Araújo "Peregrino"
tema da semana do Café Samedi: http://cafesamedi.wordpress.com/


2 comentários:
Muito bom! Você pegou um tema que não é do seu costume trabalhar, e adaptou muito bem para a sua escrita, ficou foda mesmo kkk!
flws o/
eu disse que iria comentar, não disse??
poxa, ficou muito bom, gostei mesmo.
com um desses você com certeza ganha o concurso.
bjsss
=*
polly.
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